Se no passado a disputa entre as gigantes da telefonia era travada nos campos da cobertura 4G/5G e na velocidade da internet, um novo e poderoso elemento entrou na equação, mudando completamente as regras do jogo: a Inteligência Artificial (IA). A guerra das “teles” evoluiu, e o novo campo de batalha é a oferta de acesso facilitado às mais avançadas ferramentas de IA do mercado.
A Estratégia: Da Conectividade à Inteligência
A grande virada de chave no setor é a compreensão de que o valor percebido pelo cliente não está mais apenas na qualidade da conexão, mas nos serviços e facilidades que essa conexão pode proporcionar. Em um país onde a adoção de tecnologias de IA cresce exponencialmente — com mais da metade da população brasileira já utilizando algum aplicativo do gênero —, as operadoras perceberam uma oportunidade de ouro para se diferenciar.
Claro e a Parceria com a OpenAI
Um dos movimentos mais ousados e recentes veio da Claro, que anunciou uma parceria estratégica com a OpenAI, a criadora do ChatGPT. A operadora passou a oferecer quatro meses de acesso gratuito à versão premium da ferramenta, o ChatGPT Plus, para os clientes de seus planos mais completos.
A jogada é brilhante por diversos motivos:
- Aproveitamento da Marca: A Claro se associa à marca de IA mais reconhecida e desejada do momento.
- Educação do Cliente: Ao oferecer um “test drive” da versão paga, a empresa introduz o cliente a funcionalidades avançadas, criando uma potencial dependência e um futuro cliente para a ferramenta.
- Benefícios em Toda a Escala: A estratégia não se limita aos planos pós-pagos. Clientes do pré-pago e controle também recebem benefícios, como bônus de dados para usar exclusivamente com o ChatGPT, democratizando o acesso e fortalecendo a percepção de valor da marca.
A Resposta da Vivo com o Perplexity AI
A Claro não está sozinha nessa corrida. A Vivo já havia se adiantado, oferecendo um ano de acesso gratuito ao Perplexity AI, um concorrente direto do ChatGPT, através de seu programa de fidelidade, o Vivo Valoriza. A iniciativa demonstra que a competição pela oferta de “cérebros digitais” como valor agregado já estava em andamento.
O Futuro é a Inteligência Agregada
O que estamos testemunhando é uma mudança de paradigma. As operadoras de telefonia estão deixando de ser meras fornecedoras de infraestrutura para se tornarem curadoras de experiências digitais inteligentes. O objetivo é claro: reter e fidelizar clientes em um mercado saturado, oferecendo algo que vai além do pacote de dados e minutos.
Essa tendência, iniciada pelas teles, tem tudo para se espalhar como um rastilho de pólvora por outros setores. Em breve, poderemos ver bancos oferecendo assistentes de IA para gestão financeira, varejistas com personal shoppers virtuais e empresas de mídia com curadores de conteúdo baseados em IA como parte de seus pacotes de assinatura.
A guerra pela sua atenção e lealdade mudou de patamar. A conectividade é a base, mas a inteligência artificial é, sem dúvida, o novo e decisivo campo de batalha.