O rabino Ruben Sternschein não participará mais do ato inter-religioso em memória aos 50 anos da morte do jornalista Vladimir Herzog, que acontece nesse sábado (25/10), na Catedral da Sé, no centro de São Paulo. O religioso teve a participação cancelada após ser afastado de suas atividades na Congregação Israelita Paulista (CIP) por denúncias de assédio sexual.
Uma reportagem da Revista Piauí, publicada nessa quarta-feira (22/10), apresentou relatos que acusam Sternschein de ter cometido assédio sexual contra cinco mulheres que frequentavam a congregação. A matéria foi publicada a três dias da homenagem à Herzog, o que motivou o afastamento do homem da CIP e do evento.
Procurado pelo Metrópoles, o Instituto Vladimir Herzog, responsável pela homenagem, informou que foi avisado pela Congregação Israelita Paulista sobre a suspensão das atividades religiosas do rabino. Com o comunicado, o instituto optou por cancelar a participação de Sternschein no ato previsto para esse sábado.
“Aguardamos definição da representação da comunidade judaica, que será conduzida por outro líder religioso, ainda não definido, preservando o caráter plural e simbólico da cerimônia, que reafirma os valores da memória, da justiça e da democracia”, completou o instituto.
Em uma nota publicada no site oficial da CIP, a congregação afirmou que apura as alegações apresentadas na reportagem dessa quarta-feira (22/10). O religioso foi afastado preventivamente e um serviço de consultoria especializada foi contratado para verificar os fatos.
“A instituição reafirma seu compromisso inegociável com a ética, a integridade e o respeito à dignidade de todas as pessoas. O Código de Ética e Conduta da CIP repudia qualquer forma de assédio ou discriminação e assegura o direito à escuta e à presunção de inocência, em consonância com os princípios do Estado de Direito e com os valores judaicos de verdade (emet) e justiça (tzedek)”, explicou.
O que diz o rabino afastado
O Metrópoles entrou em contato com o rabino Ruben Sternschein para ouvir o outro lados das acusações.
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Em nota, o rabino manifestou seu total repúdio às falsas acusações recentemente divulgadas pela revista Piauí.
“Trata-se de conteúdo irresponsável, que distorce fatos e apresenta alegações sem qualquer fundamento. A publicação integra uma campanha difamatória que há mais de um ano tenta atacar sua honra e trajetória, contrariando uma vida pautada por conduta ética e moral reconhecida por toda a comunidade”, diz parte do texto.
O rabino também lamentou os comentários antissemitas e depreciativos contra o povo judeu, veiculados pela própria revista em suas redes sociais, o que aumenta a gravidade do episódio e o torna ainda mais ofensivo a toda a comunidade judaica.
“A revista teve acesso a informações que desmentem as narrativas apresentadas, mas, ainda assim, optou por divulgá-las de forma indevida, causando grave dano à imagem do Rabino e à tranquilidade de sua família”, completou.
Com o afastamento do religioso, a homenagem à Herzog aguarda a ordenação de uma nova liderança para o ato. Na CIP, os serviços religiosos e as atividades comunitárias seguem normalmente presididas por outro rabino.
“50 anos por Vlado”
Um ato inter-religioso em memória aos 50 anos do assassinato do jornalista Vladimir Herzog, morto em 25 de outubro de 1975, vítima de tortura na ditadura militar, será celebrado na noite desse sábado (25/10), na Catedral da Sé, centro de São Paulo.
Para marcar a data, a Comissão Arns e o Instituto Vladimir Herzog vão recriar o ato na Catedral da Sé, mesmo local em que ocorreu a cerimônia da missa de sétimo dia do falecimento de Herzog, em 1975. Naquele ano, mais de 8 mil pessoas se reuniram para lamentar o assassinato do jornalista.
Cinco décadas depois, o novo ato será dedicado não apenas à memória de Herzog, mas também a todas as famílias que perderam entes queridos durante a ditadura. A programação prevê acolhida a partir das 19h, com participação do Coro Luther King, seguida de manifestações inter-religiosas.
Estarão presentes no evento amigos e familiares de Vlado, parlamentares, ministros, figuras públicas e José Carlos Dias, ex-ministro da Justiça, representando as organizações realizadoras.