O objetivo de limitar o aquecimento global a 1,5° C em relação à era pré-industrial será inevitavelmente superado nos próximos anos, reconheceu, nesta quarta-feira (22), o secretário-geral da ONU, António Guterres, a um mês da realização da COP30 em Belém do Pará.
“Uma coisa está clara: não conseguiremos conter o aquecimento global abaixo de 1,5° C nos próximos anos”, declarou Guterres diante da Organização Meteorológica Mundial (OMM) da ONU, em Genebra, destacando que “a ultrapassagem agora é inevitável”.
Conter o aquecimento do planeta em até +1,5 °C em comparação com a era pré-industrial (1850-1900) é a meta mais ambiciosa do Acordo de Paris, firmado em 2015.
Muitos climatologistas concordam que esse limite provavelmente será alcançado antes do fim da década, já que o planeta continua consumindo cada vez mais petróleo, gás e carvão. O clima já está, em média, 1,4° C mais quente do que antes, segundo o observatório europeu Copernicus.
Guterres afirmou que os planos nacionais mais recentes para reduzir as emissões de carbono estão muito aquém da meta de 1,5° C e alertou que a ultrapassagem teria consequências “devastadoras”.
A ONU está avaliando esses planos – muitos ainda não apresentados – que estabelecem metas de redução das emissões de carbono até 2035 e detalham os meios para alcançá-las.
O secretário-geral observou que os compromissos abrangendo 70% das emissões globais permitiriam apenas uma redução de cerca de 10% da poluição por carbono até 2035.
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU ressalta que as emissões precisam cair 60% até 2035, em comparação com os níveis de 2019 para haver uma boa chance de limitar o aquecimento a 1,5° C, sem ultrapassá-lo, ou com uma ultrapassagem limitada.
Cientistas destacam a importância de conter o aquecimento o máximo possível, pois cada fração de grau adicional traz riscos maiores, como ondas de calor extremas e destruição da vida marinha.
Limitar o aumento do aquecimento a 1,5 °C em vez de 2 °C reduziria significativamente as consequências mais catastróficas, segundo o IPCC.
– À beira do abismo –
Guterres, que já havia advertido diante da OMM que essas mudanças estão “levando nosso planeta à beira do abismo”, pediu ainda aos governos que apresentem novos planos nacionais de ação climática “audaciosos” antes da próxima COP.
“A ciência nos diz que é necessária uma ambição muito maior”, afirmou, conclamando novamente os países participantes da COP30 a “acordar um plano crível para mobilizar 1,3 trilhão de dólares [R$ 7 trilhões] por ano em financiamento climático até 2035 para os países em desenvolvimento”.
A COP30, que será realizada de 10 a 21 de novembro em Belém, enfrentará o enorme desafio de unir as nações do mundo para não afrouxar a ação contra as mudanças climáticas, apesar da retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris.
Um mês depois de Donald Trump ridicularizar a ciência climática na Assembleia Geral da ONU, chamando a mudança climática de “a maior fraude já praticada”, Guterres fez um apelo para combater a desinformação sobre o tema.
“Em toda parte devemos lutar contra a desinformação, o assédio online e o greenwashing” – ou seja, se apresentar como nais respeitoso ao meio ambiente do que realmente é -, declarou o chefe da ONU.
Sem ciência e dados climáticos “claros”, afirmou, o mundo nunca teria compreendido a “ameaça perigosa e existencial” representada pelas mudanças climáticas. “Os cientistas e pesquisadores nunca devem temer dizer a verdade”, acrescentou.
Ele também enfatizou que “as energias renováveis são a fonte de energia nova mais barata, rápida e sensata. Representam o único caminho crível para pôr fim à destruição incessante do nosso clima”.
A OMM, que celebra este ano seu 75º aniversário, trabalha para que todos os países contem com sistemas de alerta antecipado contra fenômenos meteorológicos extremos até 2027.
ag-klm-dep/abb/am/mab/mb/lm/mvv