A análise de Fontes traça um panorama macroeconômico global e doméstico que culmina em um alerta sobre o risco do investimento em crédito privado. Segundo ela, tanto o Brasil quanto os Estados Unidos vivem uma desaceleração econômica suave, mas com fatores de rigidez que impedem uma queda acentuada das taxas de juros. Isso vai manter o crédito caro e as empresas endividadas ou com pouca margem para investir.
“Tem um ativo que cuidamos muito para colocar na carteira do cliente, que é o crédito privado. Quando olhamos o crescimento dos fundos, vemos que as gestoras que mais tiveram crescimento foram as de crédito privado, em detrimento dos fundos de Bolsa. A consequência disso são os spreads no chão, nas mínimas históricas, e isso é muito preocupante”, avalia.
Para Fontes, se a política econômica mantiver a Selic alta, haverá cada vez mais “eventos de crédito”, como da Ambipar, Braskem, Lojas Americanas e Light, em um momento em que os investidores estão muito alocados nestes ativos.
Um pé no freio, outro no acelerador
A solução encontrada pelo governo, aponta Fontes, é a concessão de subsídios e benefícios fiscais – como em títulos de agronegócio ou infraestrutura (LCI/LCA, CRAs, CRIs, debêntures incentivadas) – para tentar manter a atividade econômica.
Essa dinâmica de “pé no acelerador” – com gastos fiscais elevados – e “pé no freio” monetário – com juros altos – mantêm o juro neutro do Brasil em patamares elevados, o que, no longo prazo, desestimula o investimento produtivo em favor da renda fixa.
“As empresas ficam asfixiadas e você tem que escolher os ‘amigos do rei’, para ver quem vai receber subsídio. Tanto melhor seria ter juros mais baixos para todos”, avalia.
Limites para cortes de juros
O panorama macroeconômico global não traz boas perspectivas para o cenário do crédito privado, que só seria positivo em uma dinâmica de queda de juros nos EUA e no Brasil.
Isso porque a queda de juros nos EUA ajuda a abrir o cenário de cortes no Brasil também, mas há limites nesta redução.
Nos EUA, o limite do corte passa pelo controle da inflação, que deve sofrer pressão do efeito das tarifas, que ainda não impactaram totalmente a economia americana.
“Acredita-se que tarifas não estão totalmente precificadas e ainda devam se manifestar, dificultando um retorno rápido da inflação ao centro da meta e estabelecendo um “piso” para a queda dos juros do FED”, diz.
Além disso, há o risco fiscal dos EUA. O déficit americano elevado, que já soma 7,5% do PIB, e a falta de planos para cortar gastos elevam a dívida pública a patamares crescentes.
O efeito é o aumento dos juros de longo prazo, pressionando o juro neutro para cima.
No Brasil, o mercado de trabalho resiliente e o desemprego em mínimas históricas também devem pressionar o Comitê de Política Econômica a manter os juros altos – dinâmica interna que se soma ao cenário externo de juros dos EUA.
“A principal limitação para a política de juros do Banco Central do Brasil é a conexão com o juro americano. A taxa de juros brasileira é, em essência, a taxa americana somada ao prêmio de risco”, afirma Fontes. “Se a taxa de juros nos EUA não cair por conta da dívida e da economia, a taxa de juros do Brasil também fica presa a um piso.”
Além do cenário externo, o Brasil tem uma dinâmica interna que contribui para juros estruturalmente altos, como a política fiscal expansionista – com aumento de gastos – e a ausência de uma âncora fiscal que garanta a sustentabilidade da dívida pública.
“O resultado é que o Brasil conviverá com uma taxa de juros alta por um tempo prolongado, que o mercado precifica em torno de 12%, não vamos nos descolar muito disso”, diz.
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