No mundo dos negócios e da tecnologia, histórias de sucesso meteórico são celebradas. Mas o que acontece quando um sucesso se torna tão grande que um país inteiro, ou até mesmo um setor, passa a depender dele? A história nos oferece duas lições poderosas e surpreendentemente semelhantes: o “Efeito Nokia” na Finlândia e, mais recentemente, o “Efeito Ozempic” na Dinamarca.
Esses casos são muito mais do que curiosidades econômicas; são alertas estratégicos para empresas, profissionais e até mesmo para a gestão da nossa própria carreira na nova economia.
A Lição da Finlândia: O Efeito Nokia
Nos anos 90 e 2000, a Finlândia e a Nokia eram praticamente sinônimos. A gigante de celulares não era apenas um orgulho nacional; era o motor da economia. Em seu auge, a Nokia chegou a representar impressionantes 4% do PIB do país e cerca de 25% de todas as suas exportações. O sucesso era tão avassalador que parecia infindável.
No entanto, a mesma velocidade que a levou ao topo, a derrubou. A incapacidade de se adaptar à revolução dos smartphones, liderada pelo iPhone, foi fatal. A queda da Nokia não foi apenas a falência de uma empresa; foi um choque sísmico para a economia finlandesa, que sofreu com o desemprego e a perda de sua principal fonte de inovação e receita. A Finlândia aprendeu da forma mais dura a lição sobre os perigos da dependência excessiva.
A Repetição da História: O Efeito Ozempic
Décadas depois, um roteiro parecido se desenrola na Dinamarca. A farmacêutica Novo Nordisk, impulsionada pelo sucesso global de seus medicamentos para diabetes e perda de peso, Ozempic e Wegovy, tornou-se a espinha dorsal da economia dinamarquesa. O sucesso é tão estrondoso que a empresa se tornou a mais valiosa da Europa, e seu crescimento foi o principal responsável por evitar que a economia do país entrasse em recessão.
A semelhança com o caso da Nokia é inegável e acende um alerta. Assim como a Finlândia dependia dos celulares, a Dinamarca hoje se vê atrelada ao desempenho de uma única companhia e a uma classe específica de medicamentos.
O risco é claro: e se novos concorrentes surgirem com alternativas mais eficazes? E se regulamentações mais rígidas impactarem as vendas? E se uma mudança inesperada no mercado de saúde diminuir a demanda? Qualquer um desses cenários poderia desestabilizar não apenas a Novo Nordisk, mas toda a economia dinamarquesa.
A Lição para sua Carreira e Negócio
Os “Efeitos Nokia e Ozempic” são metáforas poderosas para os riscos da falta de diversificação. A lição central é clara: nunca coloque todos os seus ovos na mesma cesta.
No contexto profissional, isso significa não depender de uma única habilidade, um único emprego ou um único cliente. Profissionais que se concentram em apenas uma tecnologia ou plataforma de trabalho correm o risco de se tornarem obsoletos quando o mercado mudar – assim como os engenheiros da Nokia especializados em Symbian viram seu mundo desmoronar.
Para as empresas, especialmente as startups e PMEs, a mensagem é a mesma. Depender de um único cliente “baleia”, um único fornecedor ou um único canal de vendas cria uma vulnerabilidade perigosa. O sucesso de hoje pode ser a ruína de amanhã se não for acompanhado de uma estratégia de diversificação e inovação contínua.
A nova economia exige agilidade, aprendizado constante (reskilling e upskilling) e, acima de tudo, uma visão estratégica que evite a armadilha do “gigante único”. A história da Nokia e o alerta da Novo Nordisk nos ensinam que a verdadeira sustentabilidade não está em encontrar uma única fonte de sucesso, mas em construir um ecossistema resiliente e diversificado, capaz de absorver os choques e se adaptar ao futuro.