Apesar de 70% das vendas do Magazine Luiza acontecerem online, a empresa tomou a decisão de abrir sua primeira loja física desde 2021 e a maior em toda sua rede. Em entrevista à IstoÉ Dinheiro, o CMO (Chief Marketing Officer) da empresa, Felipe Cohen, explica que o novo empreendimento pretende gerar lucros para além do tradicional varejo feito pela empresa.
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No espaço de 4 mil metros quadrados no edifício Conjunto Nacional, na Avenida Paulista, o Magazine Luiza quer criar um “ponto turístico em São Paulo”, nas palavras do executivo. Atraindo grandes fluxos de pessoas, a empresa pretende rentabilizar com publicidade e eventos.
“A Galeria Magalu [nome da nova loja conceito] é o que a gente acredita ser o futuro da loja física. Não é só um local de venda — ela vende também, é muito importante vender — mas é um local de encontro. É um local com muitas outras fontes de receita”, afirma Cohen.
“Margem de lucro do varejo é super apertada, né? Não só da Magalu, mas de qualquer varejista. Então a gente acredita que, para aumentar nossa rentabilidade, a gente precisa ter novas fontes de receita. Acho que essa loja vai ser a primeira onde a gente vai ter grande parte do lucro vindo de outras fontes”, segue o CMO.
O Magazine Luiza já conta com um braço de publicidade online, o Magalu Ads, que não tem seus números divulgados. A personagem Lu, criada para representar a marca, também se tornou uma influenciadora que já fez propagandas para empresas como Uber, WhatsApp e Burger King. A “Magalulândia”, no entanto, abrirá portas novas de receita com anúncios no mundo offline.
Ao mesmo tempo, Cohen explica que uma loja física de sucesso acaba também ampliando o online. “Estou no Magalu desde 2015 e a gente abriu loja em muitos estados em que a gente não tinha loja física: no Maranhão, Pará, Rio de Janeiro. Em todos esses lugares, depois que a gente abriu loja física, o nosso market share online aumentou substancialmente. Ou seja, ter uma loja física também potencializa o online”, afirma.

Todos os pontos físicos de venda servem ainda para compor a logística do Magazine Luiza. Na nova unidade, também será possível devolver ou retirar de produtos comprados no site, inclusive aqueles comercializados por parceiros no marketplace da empresa.
A data oficial de inauguração não está fechada, porém a expectativa é o início de dezembro. Tampouco são divulgados o investimento realizado ou o tempo do contrato de aluguel do espaço, assinado com a família Herz, donos da antiga Livraria Cultura.
Magalu não é a pioneira
A Galeria Magalu atende todos os critérios do que é uma “loja conceito”, também conhecida como flagship store. O termo, cunhado pelo sociólogo italiano Francesco Morace em 1991, refere-se a espaços que aliam vendas a experiências imersivas, em uma tentativa de tornarem-se polos culturais e de turismo.
Grandes empresas mantém lojas do tipo em diversas partes do mundo. Algumas outras unidades incluem:
- A Apple Store na Quinta Avenida, em Nova York, no subsolo de um cubo de vidro através do qual entra uma luz espelhada, é onde ocorrem vários lançamentos da empresa;
- A M&M’s em Londres, onde é possível escolher comprar os doces de apenas uma cor em enormes prateleiras de vidro;
- A Louis Vuitton Island Maison, em Singapura, localizada em um porto, com túneis submarinos que servem de espaço de exposição e para desfiles de moda.
No Brasil, outras lojas conceito incluem:
- A Tiffany’s dentro do shopping Iguatemi de São Paulo, com dois andares e diversos ambientes para experimentação das peças;
- A NBA Store Arena, no Shopping Morumbi, também em São Paulo, que oferece aulas de basquete para crianças e adolescentes em uma quadra oficial, além de eventos;
- A loja da chocolateria Dengo no bairro de Pinheiros, também em São Paulo, conta com uma vitrine para assistir à preparação de bombons e compreender mais sobre o processo de produção dos chocolates;
- A loja da empresa de tecnologia Oracle, onde é possível testar tecnologias como óculos de realidade virtual e simulador de Fórmula 1.
As fontes de receita da ‘Magalulândia’
Em quase todas as paredes, haverá painéis de led para exibição de “retail media”, estratégia que consiste justamente em espaços de divulgação dentro de uma varejista vendidos aos fornecedores. No térreo, haverá ainda um showroom batizado Casa da Lu, também comercializado. Segundo Cohen, a cozinha já está toda vendida para um mesmo parceiro exibir seus produtos.
No primeiro andar, um espaço da loja Kabum, outra das empresas do grupo Magalu, disponibilizará 10 computadores para jogar vídeo games em um sistema como as antigas lan houses. Ali, a empresa pretende realizar no futuro lançamentos e até campeonatos de jogos.
Também próxima à entrada estará uma “pop-up store”, modelo de loja física temporária alugado para parceiros promoverem produtos ou marcas. Cohen nomeia como possíveis locatários — por ora meramente especulativos — empresas de cinema divulgando filmes, lançamentos de cosméticos e até eventos esportivos.

Da mesma forma, o espaço da Época Cosméticos, no mesmo andar, estará habilitado para servir como um salão de beleza de ponta, com equipamentos tecnológicos para encontrar produtos adequados a cada biotipo. Já a área da Netshoes oferecerá serviço de personalização de artigos esportivos.
No terceiro andar, no espaço da Estante Virtual, haverá um café administrado pela empresa WeCoffee e espaços para leitura e lançamento de livros. Além disso, a grande estrela do uso do espaço: o antigo teatro Eva Herz agora será Teatro YouTube – Sala Eva Herz, e receberá, além de espetáculos tradicionais, eventos com grandes criadores digitais.
Mais 10 lojas mapeadas
O CMO do Magalu deixa claro que não há plano concreto para criação de novas Galerias Magalu. “A gente ainda não está falando de plano de expansão porque a gente quer primeiro aprender muito com essa loja”, diz. Ele admite, no entanto, que a empolgação leva os responsáveis pela empreitada a já analisarem outras dez das quase 1300 unidades do Magazine Luiza com potencial de se tornarem novas lojas conceito.
“Vai ser a primeira loja onde todas as marcas do nosso ecossistema vão estar presentes. A gente está tão confiante no sucesso dela que a gente já vislumbra pelo menos mais 10 lojas que já temos e que poderiam se transformar em Galeria Magalu. Mas primeiro é abrir essa, fazer a loja muito bem feita, aprender muito com ela e depois, dando certo, a gente vai expandir com certeza”, diz o CMO.
A Galeria Magalu marca assim um novo momento da empresa depois de uma grande rodada de expansão através de aquisições entre os anos de 2020 e 2023. As outras marcas do grupo empresarial no espaço (Kabum, Estante Virtual, Netshoes, Época Cosméticos) foram compradas nesta época.
Cohen repete várias vezes como a loja conceito unirá o físico e o digital, assim como a modernidade e tradição do espaço. “Ela está no Conjunto Nacional. É um lugar que tem uma importância muito grande para São Paulo. A gente tomou um cuidado e um carinho enorme para preservar muito do legado. Todos os corrimãos originais, o dragão pendurado e vários elementos da arquitetura original serão mantidos”, diz.
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