O ecossistema de startups foi surpreendido esta semana com o encerramento das atividades da Latu, uma insurtech que havia atraído a atenção de investidores de peso como a Monashees. Sem alarde, o site da empresa foi substituído por uma mensagem sucinta de despedida, marcando o fim de uma trajetória promissora no mercado de seguros para PMEs.
Contudo, o que poderia ser apenas mais uma história de startup que não vingou ganhou contornos mais profundos. Antes do silêncio institucional, a CEO Paola Neira fez um desabafo contundente em suas redes, oferecendo uma visão crua e necessária sobre os desafios de inovar em um setor dominado por gigantes e por uma mentalidade que, segundo ela, sabota a própria segurança.
Neira questionou a obsessão do mercado por apólices de baixo custo, uma guerra de preços que cega os clientes para o que realmente importa: a qualidade e a abrangência da cobertura. “Todo mundo só foca no preço mais baixo, ninguém quer mergulhar nos detalhes”, afirmou.
Essa busca incessante pelo “mais barato” cria uma armadilha perigosa. Os segurados, sem incentivo para entender as nuances de suas apólices, acabam vulneráveis, protegidos apenas por “letrinhas miúdas” que poucos se dão ao trabalho de ler. O resultado? Uma falsa sensação de segurança que só se revela inadequada no momento em que o suporte é mais necessário.
A crítica da executiva não é um caso isolado, mas um sintoma de um desafio sistêmico. O mercado de seguros, apesar de ser um campo fértil para a disrupção, ainda se mostra resistente. Inovações que buscam oferecer produtos mais inteligentes, transparentes e adaptados aos riscos modernos enfrentam a barreira cultural do “é só preço”.
O fim da Latu não é apenas o encerramento de um CNPJ; é um convite à reflexão. Até que ponto a mentalidade de curto prazo está minando a construção de um ecossistema de seguros mais robusto e confiável? A trajetória da Latu, embora breve, deixa um legado em forma de questionamento: estamos dispostos a pagar o preço pela segurança real ou continuaremos a nos contentar com a ilusão do mais barato?