Embora ainda queime tanto carvão quanto o restante do mundo combinado, no mês passado o presidente Xi Jinping fez uma promessa surpreendente. Em discurso na ONU, afirmou pela primeira vez que o país reduzirá suas emissões de gases de efeito estufa em toda a economia e ampliará em seis vezes a capacidade de energia renovável nos próximos anos. Foi um momento de relevância global para a nação que é o maior poluidor do planeta.
Os esforços chineses contrastam com a política dos Estados Unidos sob a administração Trump, que utiliza influência diplomática e econômica para pressionar outros países a comprarem mais gás, petróleo e carvão americanos. A China, por sua vez, investe em tecnologia solar e eólica mais barata, além de baterias e veículos elétricos, com o objetivo de se tornar fornecedora mundial de energia renovável e dos produtos que dependem dela.
O principal conjunto de usinas solares, conhecido como Parque Solar Talatan, supera qualquer outro agrupamento de fazendas solares no mundo. Ele cobre 420 km² no condado de Gonghe, um deserto alpino pouco habitado na província de Qinghai, oeste da China.
Nenhum outro país utiliza altitudes elevadas para solar, eólica e hidrelétrica em escala comparável à da China no planalto tibetano. O projeto é um exemplo de como o país passou a dominar o futuro da energia limpa. Com forte investimento e planejamento estatal, empresas de eletricidade estão reduzindo a dependência de petróleo, gás e carvão importados — uma prioridade nacional.
A energia renovável ajuda a China a operar 48 mil quilômetros de linhas de trem de alta velocidade e sua crescente frota de carros elétricos. Ao mesmo tempo, a eletricidade barata permite fabricar ainda mais painéis solares, que dominam o mercado global e abastecem centros de dados de inteligência artificial.
A energia solar e eólica em Qinghai, que ocupa o terço norte do planalto tibetano, custa cerca de 40% menos que a gerada por carvão. A província abrange grande parte da região conhecida entre os tibetanos como Amdo e inclui o local de nascimento do atual Dalai Lama, hoje exilado.
Em julho, o premiê Li Qiang participou da cerimônia de início das obras de cinco novas barragens no rio Yarlung Tsangpo, no sul do Tibete, região fortemente controlada pelo Partido Comunista e fechada a jornalistas ocidentais. Poucas informações foram divulgadas, mas espera-se que as obras levem anos e resultem no maior projeto hidrelétrico do mundo. A construção preocupa a Índia, que teme que a China possa cortar o fornecimento de água para áreas a jusante no leste indiano.
A China não é o primeiro país a experimentar energia limpa em grandes altitudes, mas outros locais tão altos quanto o planalto tibetano são montanhosos e íngremes. Qinghai, um pouco maior que o Texas, é majoritariamente plano — ideal para painéis solares e para as estradas necessárias para transportá-los. O ar frio também aumenta a eficiência dos painéis.
O projeto Talatan está instalado em solo arenoso com vegetação esparsa, usada como pasto por pastores tibetanos. Os primeiros painéis, colocados em 2012, ficavam tão próximos ao chão que dificultavam o pasto das ovelhas. Agora, todos são montados em estruturas mais altas, segundo Liu Ta, gerente do projeto.
Deslocar pessoas para projetos de energia é politicamente sensível em todo o mundo. Mas, em áreas de alta altitude e baixa densidade populacional, o impacto é menor. Há 25 anos, a China removeu mais de 1 milhão de pessoas de suas casas no centro-oeste do país para criar o reservatório da Barragem das Três Gargantas. Este ano, o país tem instalado, a cada três semanas, painéis solares suficientes para igualar a capacidade de geração dessa barragem.
Gerar energia eólica no planalto é mais complexo. Em grandes altitudes, os ventos são fortes, mas o ar rarefeito não movimenta as pás das turbinas com a mesma eficiência que o ar mais denso ao nível do mar.
Ainda assim, a região abriga muitas turbinas. Operadores da rede elétrica buscam equilibrar a geração solar durante o dia com a eólica à noite, mantendo a tensão estável e evitando apagões.
A província de Qinghai envia o excedente de energia solar para Shaanxi, no centro-oeste da China. Em troca, complementa a energia eólica local à noite com pequenas quantidades de eletricidade gerada por usinas a carvão de Shaanxi.
Além disso, Qinghai recorre cada vez mais à hidrelétrica para equilibrar a produção solar, reduzindo o uso de energia a carvão.
Há mais de uma década, oito barragens foram construídas no rio Amarelo, que desce mil metros ao deixar o planalto rumo ao leste da China. Outras estão em construção para complementar a energia solar gerada na província.
“Quando a energia fotovoltaica é insuficiente, posso usar a hidrelétrica para compensar”, disse Zhu Yuanqing, diretor da divisão de energia do Departamento de Energia de Qinghai.
c.2025 The New York Times Company
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