Cultura de poupança ainda fraca
A cultura de poupar ainda é pouco enraizada entre os brasileiros. Isso porque, historicamente, gerações passaram décadas sob cenários de inflação alta. O valor do dinheiro guardado costumava se desvalorizar rapidamente, o que desestimulava as pessoas a economizarem.
Segundo Gleisson Rubin, diretor de Previdência do Grupo MAG e do Instituto de Longevidade, a convivência prolongada com a inflação enfraqueceu tanto o hábito quanto a mentalidade das pessoas de poupar.
“No Brasil, duas ou até três gerações inteiras não foram educadas a poupar, porque viveram parte das suas vidas em ambientes de inflação elevada. Era um cenário em que, se você guardasse dinheiro hoje, amanhã ele poderia perder valor muito rápido.”
Para controlar a hiperinflação que afetava o país desde os anos 1980, o governo brasileiro lançou mão de uma série de medidas econômicas em 1994, conhecidas como Plano Real.
Entre elas, houve a criação de uma nova moeda, o real, que substituiu o cruzeiro real e trouxe maior estabilidade monetária.
Com o sucesso do Plano Real, a inflação foi reduzida, passando de taxas anuais superiores a milhares por cento para níveis controlados próximos a 4% ao ano nas últimas décadas.
Para Rubin, o controle efetivo da inflação no país é relativamente recente e ainda impacta a cultura financeira. “Ainda há um trabalho a ser feito para que as pessoas sejam estimuladas a poupar”, diz o especialista.
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Preferência pelo consumo imediato
Além da cultura fraca de poupança, o comportamento consumista reforça as dificuldades financeiras para o futuro.
Muitas pessoas preferem gastar todo o seu salário e até contraem dívidas para satisfazer desejos imediatos, o que compromete a formação de reservas.
“Hoje, mais de 75 milhões de pessoas estão com dívidas em atraso. Muito disso é porque não querem abrir mão de possuir, de consumir aquele objeto, serviço, de realizar aquela vontade imediata”, afirma Rubin.
Esse padrão impede o acúmulo necessário para enfrentar os desafios da aposentadoria, segundo o especialista, e faz com que a poupança pareça distante ou até inviável.
“A disciplina de trocar o desejo do gasto presente, de abrir mão de um pouco do estímulo ao consumismo, por um estímulo a uma cultura de poupança para o longo prazo é um desafio”.
Além disso, Rubin destaca que, mesmo que as pessoas ganhem consciência da importância de poupar, isso não significa necessariamente que elas conseguirão fazer isso.
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A longevidade exige mais planejamento
O aumento da expectativa de vida, muito em razão da tecnologia e da ciência, traz um contraponto desafiador: o dinheiro tradicionalmente planejado para a aposentadoria pode não ser suficiente para garantir segurança e conforto durante um período cada vez maior de vida pós-carreira.
Segundo Guilherme Hinrichsen, vice-presidente comercial da regional São Paulo da Icatu Seguros, o dinheiro acumulado para a aposentadoria precisa durar muito mais do que no passado, quando se estimava um período menor de vida após o fim da vida profissional.
“A longevidade mexeu com todo o planejamento. As pessoas podem viver muito mais e até continuar trabalhando por mais tempo, o que altera conceitos antigos sobre aposentadoria. ”
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A fase da desacumulação
Segundo Hinrichsen, o planejamento financeiro precisa ser ampliado e elaborado com mais precisão para proteger contra o risco de sobreviver além do esperado.
Nesse sentido, é importante pensar na fase da desacumulação, que ocorre quando a pessoa começa a usar o capital que acumulou durante a vida para gerar uma renda na aposentadoria, ou seja, é o momento em que o dinheiro guardado deixa de ser poupado e começa a ser gasto para sustentar o padrão de vida.
Um método comum é o resgate mensal desse capital acumulado, funcionando como um “salário” que vai sendo usado ao longo do tempo. Além disso, seguradoras oferecem produtos específicos chamados de planos de renda, que podem ser diversificados, como renda vitalícia (pagamento enquanto a pessoa viver) ou renda por prazo determinado (por exemplo, por 15 anos).
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Nesses planos, o cliente entrega o dinheiro acumulado à seguradora, que passa a pagar uma mesada fixa mensal, garantindo recursos mesmo que a pessoa viva muito além do esperado. Caso o segurado faleça, alguns produtos continuam pagando os beneficiários, como filhos.
“Essa modalidade é fundamental porque há incertezas sobre a expectativa de vida e o momento exato da aposentadoria. A seguradora assume o risco de que a pessoa possa viver por 10, 20, 30 anos ou mais após se aposentar, garantindo estabilidade financeira ao garantir o pagamento por todo o período de sobrevivência estimado”, explica Hinrichsen.
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