reforma do Imposto de Renda aprovada em outubro virou uma das principais apostas do governo Lula para tentar melhorar sua imagem e ganhar força na corrida eleitoral de 2026. A proposta, relatada por Arthur Lira, isenta quem ganha até R$ 5 mil por mês e ainda dá um desconto para quem recebe até R$ 7.350. No total, cerca de 16 milhões de brasileiros vão sair ganhando — 10 milhões deixam de pagar IR e outros 6 milhões vão pagar menos. É uma medida que mexe direto no bolso da classe média formal, justamente onde Lula tem mais dificuldade de conquistar apoio.
A pesquisa Genial/Quaest divulgada no dia 8 de outubro mostra que a aprovação do governo voltou a empatar com a desaprovação: 48% aprovam, 49% desaprovam. É o melhor resultado desde janeiro. E o mais interessante é que essa melhora aparece, inclusive, nas regiões onde Lula costuma ter mais rejeição. Comparando os dados de setembro com os de outubro, a aprovação subiu no Nordeste de 60% para 62%, no Sudeste de 41% para 44%, e no Sul de 39% para 41%. No Centro-Oeste/Norte, houve uma leve oscilação negativa, de 45% para 44%, mas ainda dentro da margem de estabilidade. Ainda assim, o presidente segue com níveis baixos aprovação no Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Neste sentido, a isenção do Imposto de Renda, que passará a vigorar em 2026, tem papel importante na estratégia do incumbente.
O impacto regional é chave nessa história. O Sudeste concentra 24,3% dos contribuintes do país que ganham entre 2 e 5 salários mínimos — e São Paulo sozinho representa 14,9% desse total. No Sul, essa faixa representa 9,3% dos contribuintes nacionais. Mas quando olhamos para dentro das regiões, os números são ainda mais fortes: no Sul, 49,4% dos contribuintes locais estão nessa faixa de renda; no Sudeste, 46,5%; e em Minas Gerais, que é um estado decisivo nas eleições, 49% também se encaixam nesse perfil. Ou seja, é muita gente que pode sentir o alívio no bolso e, com isso, mudar de opinião sobre o governo.
Outro ponto importante é o grau de conhecimento da população sobre a proposta. Segundo a mesma pesquisa, 67% dos entrevistados já ouviram falar da isenção do IR, e entre eles, 79% são favoráveis à medida. Além disso, o percentual dos que acreditam que a reforma trará uma melhora importante nas suas finanças pessoais subiu de 33% em março para 41% em outubro. Um dos sinais mais claros do impacto da proposta está na faixa etária entre 35 e 59 anos — onde está a maior parte dos contribuintes — que viu a aprovação ao governo subir de 46% para 51%, com queda equivalente na desaprovação.
Isso mostra que a reforma não só está sendo bem recebida, como também já começa a alterar a percepção política de um público estratégico. Ainda assim, há cerca de 30% da população que não está plenamente informada sobre a medida, o que representa uma oportunidade concreta para o governo ampliar sua comunicação e capitalizar politicamente os ganhos da reforma.
Tem também a questão da inflação. Um gráfico que compara a desaprovação do governo com o IPCA de alimentos e gasolina mostra que, quando os preços sobem, a popularidade cai. Mas as projeções para 2026 indicam que a inflação de alimentos deve ser mais baixa, o que pode ajudar a manter a desaprovação sob controle em ano eleitoral.
Por fim, os dados por faixa de renda reforçam que a reforma está atingindo justamente o público onde a situação está mais enfraquecida. Entre quem ganha de 2 a 5 salários-mínimos, a aprovação ficou estável em 46%, mas a desaprovação caiu. E entre quem ganha mais de 5 salários-mínimos, a aprovação até subiu um pouco — talvez por causa da postura do governo nas negociações com os EUA. Tudo isso mostra que Lula está tentando reconquistar o eleitorado da classe média formal, que foi majoritariamente bolsonarista em 2022.
Evidentemente que nada disso garante vitória. Apesar da recuperação nos índices e da força da reforma, a eleição de 2026 ainda promete ser muito acirrada. A oposição, embora ainda sem ter um candidato definido, possui nomes fortes como o de Tarcísio de Freitas e Ratinho Junior, que poderão atrair e aglutinar o eleitorado mais conservador e de centro. Lula ganhou fôlego, mas vai precisar manter o ritmo, até porque muito da melhora até agora tem efeito mais temporário.
Contra ele temos uma ampliação das pessoas que não veem Lula como um presidente viável num segundo mandato, muito pela sua idade já avançada para mais uma jornada. Esse número de pessoas saiu de 10% dos eleitores para quase 30% dos eleitores.
Quando vemos o que vem pela frente ano que vem, além da inflação de alimentos que pode se manter contida e ajudá-lo, temos um enfraquecimento da atividade e do emprego além de dois setores que de maneira crescente não topam a plataforma petista, estes setores são o agrícola e o público evangélico, este segundo tendo mais de 30% do eleitorado.
Na esteira disso tudo temos a oposição que, se conseguir se organizar e seus candidatos se tornarem mais conhecidos, podem trazer bem mais dificuldades ao cenário que, olhando de hoje, mostra certa vantagem a Lula no próximo pleito eleitoral.
Ainda temos um ano pela frente, o que quer dizer que muito pode acontecer, tudo que precisamos é de alguém realmente focado nas difíceis questões de nosso país, é disso que se trata a nossa próxima eleição.
Este artigo tem as co-autorias de Rita Milani, economista da BuysideBrasil, Andrea Damico, sócia-fundadora da BuysideBrasil e de Luiz Fernando Figueiredo, co-chairman da JiveMauá.
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