O Brasil já conta com 27% da população com mais de 50 anos, e o ritmo de envelhecimento impressiona: segundo projeções da Organização das Nações Unidas (ONU), até 2044 o segmento dos chamados “prateados” responderá por 40% da população total. Para efeitos de comparação: a França levou 120 anos para elevar sua população acima de 65 anos de 10% para 20%.
Apesar do cenário demográfico claro, muitos negócios ainda não entraram nas oportunidades para esse público. “O envelhecimento será um dos maiores desafios da atualidade e, ao mesmo tempo, uma grande oportunidade econômica”, afirma Marcos Ferreira, fundador da Silver Hub, aceleradora especializada na economia prateada e organizador do Inova Silver, evento que reuniu cerca de 410 pessoas agora em outubro, em São Paulo, para discutir o envelhecimento da população e as oportunidades.
Um gigante de trilhões
A falta de atenção ao tema é imensa, uma vez que só em 2024 o consumo da população 50+ correspondeu a R$ 1,8 trilhão, ou 24% do consumo privado no Brasil. Em duas décadas, prevê-se que esse valor dobre, chegando a R$ 3,8 trilhões, e até 2044 represente 35% do consumo domiciliar privado, de acordo com Cléa Klouri, sócia-fundadora da Data8, consultoria de inovação para negócios 50+ e responsável pela compilação dos dados sobre o setor.
O Agelab (programa de pesquisa sobre 50+ ligado ao MIT) indica que a população envelhecida já representa quase um novo continente emergindo no oceano, com mais de 1 bilhão de consumidores em todo o mundo, ávidos por produtos que atendam suas demandas específicas.
Todo esse movimento cria o que muitos já chamam de “Silver Money”, a força econômica formada por pessoas com mais de 50 anos e ainda invisível para uma parte do mercado, mas com capacidade de moldar vários mercados, como explica Klouri.
Movimento lento das empresas
Segundo Ferreira, algumas empresas no mundo, especialmente as europeias, já perceberam a transformação e instruem subsidiárias latino-americanas a adaptarem portfólios para essa faixa etária. No Brasil, o especialista cita exemplos concretos de empresas que já estão aproveitando a ‘onda cinza’, tais como Prevent Senior e MedSenior, que nasceram com foco na população madura, bem como seguradoras como a Mapfre e os bancos Mercantil e BMG, que lançaram produtos específicos para idosos.
No setor imobiliário, também já se vê um começo de esforços para ir além da construção convencional, com apartamentos adaptados, ambientes seguros e serviços integrados que facilitem o envelhecimento no próprio lar. “Porque já se sabe que o melhor lugar para envelhecer é a nossa casa, desde que essa casa seja pensada para nós”, disse Ferreira.
Com quatro anos de atuação, a Silver Hub já identificou cerca de 140 startups focadas em longevidade e atualmente apoia nove delas com mentorias, governança e conexões. Metade dessas atua em saúde e bem-estar, e outras nas áreas financeira, patrimonial e digital. Um dos cases apoiados, Tech Balance, permite acompanhamento remoto de exercícios via app, por exemplo, segundo Ferreira.
Representatividade
Segundo a representante da Data8, o levantamento mostrou que 75% dos entrevistados disseram não se ver representado em campanhas publicitárias, por exemplo. Além disso, 45% afirmam que produtos não são desenvolvidos considerando suas necessidades específicas. O público maduro, ao contrário do que se pensa, é muito conectado, muitos deles já estão em redes sociais, usam smartphone e participam digitalmente.
“Mas é preciso frisar também que o envelhecimento no Brasil é acelerado e desigual. O Brasil envelheceu rápido demais e, ao mesmo tempo, existem disparidades regionais e desigualdade de acesso à saúde, renda e serviços”, frisa Clea Klouri, da Data8.
Mercado de trabalho
Segundo Clea, as empresas precisam repensar não apenas seus produtos, mas também suas estruturas. Isso porque, com a queda da natalidade e o envelhecimento crescente, a capacidade de reposição da mão de obra diminui. “As empresas terão que repensar as contratações e aproveitar talentos mais maduros, talvez em projetos ou posições flexíveis, bem como promover treinamentos e reciclagem para quem quer seguir ativo. E, claro, combater o etarismo institucional e cultural”, afirma.
A especialista cita ainda outro desafio: a intergeracionalidade no mercado de trabalho, que terá os baby boomers, gerações X e Z tudo junto e precisando ser acomodado. “Empresas têm de aprender a lidar com todas elas para se tornarem mais competitivas”.
Empreendedorismo
A população 50+ também aparece com uma participação expressiva no empreendedorismo, criando negócios que conversam com suas próprias demandas e com as de seus pares. “É preciso que o mercado abandone essa visão míope sobre os 50+, desenvolvendo produtos e serviços que considerem as necessidades dessa população, que só aumenta em todo o mundo”, disse Ferreira.
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