Você já parou para pensar se o seu mouse “denuncia” suas pausas para o café? Para cerca de mil funcionários do Itaú, essa pergunta deixou de ser uma piada de escritório e se tornou um duro golpe na carreira. O caso, que ficou conhecido como o dilema do “Dorme-Office”, abriu uma ferida profunda no debate sobre o trabalho remoto no Brasil.
A notícia caiu como uma bomba: um dos maiores bancos do país desligando centenas de colaboradores que, segundo o sindicato da categoria, teriam sido flagrados por um software de monitoramento. O “crime”? Ficar com o computador inativo por quatro horas ou mais.
Oficialmente, o Itaú falou em “padrões incompatíveis com os princípios de confiança”. Mas, nos bastidores do mundo corporativo, a mensagem que ecoou foi outra: a era da vigilância digital chegou, e ela pode custar o seu emprego.
Esse episódio nos obriga a fazer uma reflexão crucial: o que as empresas realmente querem de nós? Que a gente mova o mouse de tempos em tempos para simular atividade ou que entreguemos resultados extraordinários, independentemente de onde estamos?
A cultura do “presencialismo”, onde o chefe precisa ver o funcionário na baia para acreditar que ele está trabalhando, parecia ter sido superada pela pandemia. No entanto, o caso do Itaú mostra que ela apenas trocou de endereço. Saiu do escritório físico e migrou para a tela do computador, disfarçada de métricas de atividade.
O erro fatal aqui é confundir atividade com produtividade. Manter-se online não significa criar valor. Gerar relatórios, bater metas e inovar, sim. A grande ironia é que a ferramenta usada para garantir a “confiança” foi, na verdade, a maior prova da falta dela.
Enquanto empresas como o iFood defendem o modelo remoto como um pilar de atração de talentos, outras, como a Microsoft, chamam seus times de volta ao escritório. Não existe fórmula mágica. O que existe é cultura.
O problema não é o home office. O problema é tentar gerenciar equipes do século XXI com uma mentalidade do século XX. Lideranças que se apoiam em vigilância em vez de contexto estão fadadas ao fracasso.
A verdadeira gestão da nova economia se baseia em cinco pilares:
- Definir Entregas, Não Horários: O foco deve estar no “o quê” e no “porquê”, não no “como” ou “quando”.
- Liderar por Contexto: Dar autonomia e informação para que o time tome as melhores decisões.
- Comunicar de Forma Radicalmente Transparente: O que se espera de cada um deve ser claro como cristal.
- Valorizar a Performance Qualitativa: Ir além das métricas vazias e focar no impacto real do trabalho.
- Construir Confiança (de Verdade): Acreditar na responsabilidade e no comprometimento da equipe como ponto de partida, não como algo a ser provado.
O “Dorme-Office” não foi um escândalo sobre funcionários preguiçosos. Foi um sintoma de uma cultura de desconfiança. As empresas que entenderem que a produtividade nasce da autonomia e do propósito – e não do medo de um cursor inativo – serão as que irão prosperar na nova economia.
E você, acredita que a vigilância é o caminho ou a confiança ainda é a alma do negócio? A discussão está apenas começando.